Mais sua do que nossa


                                
Por Ana Cecília Soares e Júnior Pimenta*





Uma das primeiras impressões que se tem ao ver o trabalho da artista Cláudia Sampaio é a de estarmos diante de um imenso quebra-cabeça da vida. Uma vida, obviamente, alheia ao observador. Mas, que a partir do momento, em que ele se detém a cada fragmento, seja uma foto, uma imagem sacra, uma palavra solta, uma frase ou um objeto; tudo aquilo passa a lhe pertencer também. Digamos que acontece um tipo de interação de experiências, onde as da artista levam a reflexão das do espectador.
Para a realização da mostra de Sampaio, realizada ano passado no CCBNB – Fortaleza, pensou-se que sua “casa-obra” seria deslocada por completa para o espaço expositivo, assim como fizeram com o ateliê de Paulo Bruscky na Bienal de São Paulo. Observa-se, então, que a exposição “+ Um dia”, resulta da composição de fragmentos de fragmentos.
A tinta na parede é como pele, o cimento e a areia como carne, ferragens estruturais como veias. A casa é um corpo. Corpo marcado por vivencias. Corpo que, muitas vezes, sofre e sangra, precisando, para a “cura”, da ajuda de um “band-aid”. Um mundo de intensos começos e fins, um lar da subjetividade, que também acaba sendo nosso, pois afinal quem não já se sentiu, só, perdido, sofreu, amou e desamou, mergulhou em silêncio, tem recorrentes lembranças de familiares e amigos? Tudo é tão tipicamente humano. Tão nosso!!!
A casa está associada ao centro do mundo, já que ela funciona como uma espécie de redoma dos próprios indivíduos que se movimentam e organizam a sua vida, a partir do lar. No trabalho de Cláudia, o universo íntimo já não é mais fechado, essa redoma agora é transparente, mais ainda por estar no espaço público.
Complementando, vale à pena citar o trecho do livro “Pulsão irrefreável: arte contemporânea no feminino”, de Ana Valeska Maia, que diz: ”na casa estão tanto seus sonhos idealizados como os gritos e sussurros dos desejos frustrados. Os amores desfeitos dialogam com os amores concretizados. A crueza da má solidão convive com o arrebatamento do encontro de si mesma e da descoberta do outro”.
Na casa, as paredes servem-se de corpo para a artista, os resquícios de suas experiências. Não há filtragens e nem máscaras, há sentimentos puros e vibrantes. Por trás do concreto, a muito de carne e sangue, encontros e desencontros. Além disso, percebe-se que há uma quebra dos limites entre o público e o privado. As duas esferas se confundem, cada uma passa a ser uma extensão da outra.
Escuto vozes, impregnadas de memória viva, vozes que vem dos objetos, fotos e textos, relatando momentos de existência. O tempo está presente em tudo, um cheiro de passado na cor desbotada e, também, através da ferrugem. Na investigação poética sobre a sua existência, a ferrugem já não é mais apenas produto da corrosão dos metais ferrosos, mas a ferrugem-memória, que habita um corpo translúcido feito da corrosão dos dias vividos.
Outro aspecto constante é a presença da religiosidade, seja por meio de imagens de santos, terços, escapulários e orações. Tal aspecto se aproxima da antiga cultura dos ex-votos. As salas de “milagres” existentes em Juazeiro do Norte e em Canindé. Na tradição, por exemplo, os devotos por gratidão a uma graça alcançada deixam oferendas, como: fotos, cartas, objetos pessoais, cabelos, entre outros. Como o ex-voto, seu trabalho parece trazer um “certificado de presença” sobre uma experiência vivida.
Nesse trabalho, o sagrado e o profano se complementam. O sagrado, referindo-se, a essência privada, o íntimo que não pode ser violado e tocado. E, o profano que equivale à abertura de tudo isso ao outro, uma aproximação, partilha.
Para finalizar, eis as palavras de Jean Lacoste, em A filosofia da arte: “a unidade da obra de arte que repousa em si mesma vai nascer de um conflito entre o mundo da claridade, apolíneo, do destino dos homens, e a obscuridade a que se pode chamar, lembrando Nietzche, ‘dionísiaca’ da Terra. A plenitude da obra é o fruto de um equilíbrio quase impossível entre um mundo histórico e a terra inumana”.
Agora, aqui também é nossa casa! Intensa como o mar, a poética da artista continuará a registrar e a nos oferecer fragmentos de seu mundo, que, muitas vezes, se confundem com o seu e com o vosso.

*Texto escrito a quatro mãos.

claudia sampaio

claudia sampaio
MISTÉRIOS
Tem mistério a tua parede,
Mais um dia!
+ um dia + um dia + um dia + um dia + um dia + um dia + um dia + um dia.........
Que agonia!
Contar assim
INNNNNNNF I N I T A M E N T E........... !!!!!!
Quem olha não vê
Quem olha não sente
os mistérios que contêm a tua parede.
Quem olha se encanta,fica contente
E .............. vai embora
A casa FICA guardando os mistérios
Presos
Quem olha não sabe
Nem quebra-cabeça
Nem mágicas
São dores das almas
aflitas
do SEMPRE !
Quem olha não SE SABE
Quem olha não SE VÊ
Mistérios INNNNNNN F I N I T A M E N T E presos, disfarçados
na parede do teu coração.

Eliana De Francesco

convite | projeto < Porta Aberta>

convite | projeto < Porta Aberta>

Quarto 2


projeto

Quarto 2

Quarto 2

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27 /11/2010

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