
Há cinco anos, a artista visual Cláudia Sampaio leva um pouco do número 158 da Rua Oliveira Viana, no Papicu, para mais perto dos apreciadores da arte. Depois de ser apresentada em alguns espaços culturais da cidade e de chegar a Nuremberg, na Alemanha, a exposição “+ Um Dia...” volta ao Centro Cultural Banco do Nordeste. Paralelo a seus seis compartimentos, ali mesmo no CCBNB, Járed Domício discorre sobre sua pesquisa em torno de outros espaços, vislumbrados sob a poética de “Desenhos e outras situações de risco”. Aqui encontramos um artista que desafia os espaços de uma arquitetura visual mais próxima ao cotidiano das criações tradicionais. Ambas abrem hoje. O público e o privado compartilham de um cenário íntimo, descrevendo, às vezes literalmente, um pouco do cotidiano caseiro de Claudia. Segundo a curadora Adriana Botelho, ela promove “uma autobiografia expressa no diálogo de formas plásticas no espaço de sua casa. Apropria-se de paredes e pisos. As paredes estão preenchidas de suas marcas, fissuradas, grafitadas, arrancadas... Deixando visível o reboco estrutural, partes delas remendadas com band-aid, casa-corpo”. A própria artista nos orienta melhor. “A casa sofre um processo de intervenção nas paredes, usadas como suporte, uma criação que vejo como uma forma de dialogar no espaço que habito”. Em madeira, imitando a alvenaria da casa, entre objetos de suas memórias, plotagens, letras de música. “A casa é um site, local onde desenvolvo meu trabalho e que vou tentando elaborar em outros locais”, complementa. Claudia assume influências, referências, sempre reelaboradas conforme sua própria subjetividade: Kurt Schwitters (casa Merz), Joseph Beauys, Leonilson e Farnese de Andrade. “Impossível não existir influências. Em arte, tudo são ressignificações, releituras, feitas por cada um”. Pós graduada em Arte e Multimídia, pela Universidade Federal do Amazonas, com uma trajetória iniciada em 1990, a artista ressalta: “Não sei até quando vou mantê-la, ela vai reverberando para cada espaço, dialogando cada local com o outro”. Afinal, o tempo é um aspecto agregador à obra. “Tudo contém a passagem do tempo, na ferrugem dos metais, no esmaecimento das cores, no pó das paredes, no mofo do ar”, lembra a curadora.
Caderno 3 Diário do Nordeste